sábado, 26 de setembro de 2009

Supermercado

Deixei o Rio de Janeiro há quase dois meses, mas moro, hoje, em frente ao Pão de Açúcar. O supermercado, não a montanha. No mês passado, uma promoção sorteou um fim de semana no Copacabana Palace, entre os clientes, com show do Gilberto Gil no Morro da Urca. Não sei se o contrário proporcionaria a mesma motivação turística. Sorteio de uma viagem a São Paulo, para os consumidores cariocas.

O supermercado é a caça dos tempos modernos. Poupa o trabalho de você encontrar uma minhoca, ferir seu dedo urbano no anzol, lançar a isca às águas e esperar pelo que, finalmente, aparecer. Pode ser peixe, lata de alumínio ou sacola plástica descartável, encontrada em qualquer supermercado.

O caçador não precisa carregar sua carabina ou portar facão. É o cartão de débito (ou crédito?) que abate o gado e as aves. Fazer compras é se descuidar da tarefa de acordar nas primeiras horas do dia para tirar leite da vaca, colher milho, trabalhar a terra, construir um cercado, semear feijão, apanhar flores, pastorear.

Será que fazer tudo isso seria possível, além de esperar o engarrafamento, cuidar dos filhos, verificar os e-mails no escritório, frequentar as aulas da academia, inscrever-se no mestrado, enfrentar a fila do banco, seguir a dieta do nutricionista, pagar o psicanalista, as parcelas do apartamento, conferir o happy hour na sexta, comprar o presente de aniversário do vizinho, dedicar-se a um hobby, procurar um supermercado mais barato que o Pão de Açúcar?

A gente moderna tem muitas necessidades e sonhos. O supermercado resgata a nossa índole primata. A que vem antes de qualquer coisa. Ela permanece latente há milênios, irracional e incontrolável no coração e no estômago. É no supermercado a moradia organizada do que pode saciar uma parte do instinto de sobrevivência humana, nas pequenas e grandes cidades.

(por Eduardo Shor)

Um comentário:

  1. Pela primeira vez, li uma explicação que aquitasse minha alma que sempre amou ir ao supermercado.
    beijos

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