segunda-feira, 28 de setembro de 2009

À nossa liberdade

Escreve-se por diversos motivos. Lembrar uma ideia mais adiante é uma boa razão para anotá-la no caderno. Há pessoas que dormem com bloco e caneta sobre a mesa de cabeceira, a fim de registrar os sonhos que tiveram durante a noite. Quando acordam pela manhã, não existe maior perigo de esquecê-los.

Deixar recado serve para informar outra pessoa que uma terceira fez contato. Elaborar lista, para rememorar ordem das tarefas. Há pichações no muro, com objetivo de demonstrar revolta. Discursos célebres expressam lições históricas. Os jornalistas escrevem para trazer a cidade até a porta da nossa casa.

Tudo o que a gente vê acaba transformando em palavra. Hoje, vivo sozinho em São Paulo. É tanta coisa nova quanto vocábulo. E o dia inteiro combinando palavra umas com as outras, para conseguir traduzir o que vejo e sinto. Milhares de palavras, rostos, esquinas, automóveis, lojas e imagens passando pela cabeça.

Fiz da palavra ofício e constituição do meu ser. Pois quando elas borbulham, eu borbulho. Quando elas aquecem, eu esquento. Quando elas ferem, eu sangro. Quando elas são vírus, adoeço. (continua amanhã)

(por Eduardo Shor)

Nenhum comentário:

Postar um comentário