sábado, 3 de outubro de 2009

Céu Azul

O homem queria correr pela cidade. Quem sabe, treinar para a São Silvestre? De fato, queria correr para esquecer as preocupações. Não para fugir delas. Na linguagem moderna, desestressar. Deixar a cabeça leve. Aproveitou o dia em que o sol iluminou São Paulo. Fez-se azul no céu como, há muito, as previsões meteorológicas não azulavam. Vestiu short de pano fino, que lhe alcançava metade das coxas. Camisa. Calçou tênis confortáveis.

Não dava as passadas longas, firmes e azuis desde os tempos em que treinava nas areias de Copacabana, na adolescência. Naquela época, corria para obter o melhor tempo e aquecer o sonho de se tornar atleta. O tempo passou, o sonho esfriou.

Alongou-se. Sentiu o estalar das articulações como o quebrar de uma vareta de bambu. Desenferrujava-se. Deu dez pulos no mesmo lugar, tentando alcançar o abdômen com os joelhos. A barriga dificultou. Já suava, quando começou a correr pelas estreitas calçadas da Marginal Pinheiros, na altura da estação de Jurubatuba.

O sol ganhava cada vez mais brilho. O céu de São Paulo, sem nuvens, parecia que tinha espantado também a poluição. O homem pretendia correr durante quinze minutos, para recuperar o ritmo do exercício aos poucos. No entanto, os problemas foram se afastando de tal maneira do pensamento que ele não quis mais parar de correr. De minuto a minuto, sua cabeça foi ficando igual ao céu. Espaçosa, azul e sem nuvens (continua amanhã).

(por Eduardo Shor)

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