Um grupo de pássaros cruzou o seu inconsciente, piando cheiro matutino de lírios. Uma corrente de ar fresco acariciou-lhe a testa, em um sussurro de quem diz eu te amo como prova de amor sincero e único. Desse que todos sonham para si, sem sofrimento.
O homem ultrapassara a Avenida Paulista havia algum tempo. O que eram quinze minutos passou a três horas, cinco, seis. Desocupara-se com o preço do aluguel, a conta de luz, a falta de convites, a falta de emprego, o que os outros vão pensar, a sobrinha doente, o futuro, o almoço de amanhã, o desconhecido, a demora do elevador, o ônibus que tomou errado, a incerteza, o futuro, o metrô lotado, a saudade.
Passou por muitos lugares. Conheceu uma cidade de ruas arborizadas, pequenas vilas, jardins floridos, casas com ares de interior, escondidas atrás de uma São Paulo embrutecida, de peso e pedra. Sentiu-se mais sol, mais puro, mais livre.
Os músculos do homem estavam exauridos, as pernas fatigadas, mas a cabeça leve. Ele precisava continuar a correr para afastar os problemas. Impossível parar.
Até que as câimbras alcançaram os joelhos. O ácido lático tomou-lhe de assalto e o coração quase lhe escapou pela garganta. Caiu estatelado na calçada, imóvel.
Mas o céu permanecia azul. Azul e lindo!
(por Eduardo Shor)
domingo, 4 de outubro de 2009
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