terça-feira, 6 de abril de 2010

Deu vontade de sair escrevendo

Deu vontade de sair escrevendo. Sair garranchando. Riscar a folha de papel que não é mais folha. O que é folha de papel que não é mais folha é byte? É mata a cobra e mostra o byte? Mostra o bote? Bote fé na vida é mole? Rebole bole, dá um bolo e dá um blog e dá um gole, que eu to com sede. Eu já to verde de fome, eu já to um gato preto. Vermelho na conta. Na cova. No suvaco. Uma sova. Uma ova. Eu já to cinza. Pinga. Uma pinga na garganta, solta, canta a franga. Có, có, ró, có nasceu o dia. Levanta que o primeiro é pro santo e toda santa ajuda. Madruga. Desperta que se não der aperta. O cinto sinto muito aperta. Vê se enrola, adia, desculpa, vê se cola o beijo na boca. O queijo no rato. No rabo. No nabo, banana no café com leite. Deleite doce. É cedo. Bote fé, bote café com adoçante na loteria. Ria. Sonha. Capricórnio dia bom pro amor. Escorpião dia bom pra solidão. Astrologia. Liga a tevê, mevê. Abre o jornal. Mata o bote e mostra a cobra. Deu bode. Deu zebra. Cobra o que lhe devem, cabra. Deu zero. Abra. Cubra. Dobre. Abracadabra. Mata a mostra e mostra o mastro. O astro refletido no mar. Deu bagre. Luaguada azul marinho entrenuvens salgada foi ontem à noite. Hoje já é manhã. Já é manha. Hoje já é amanhã. Hoje já arranha a mão, formiga o pé. Hoje já é.

Deu vontade de sair escrevendo. Sair garranchando no muro. Dane-se. Doe-se. Vamos destruir a cidade. Até que não sobre pedra sobre pedra. Prédio sobre prédio. Podre sobre podre. Sobremesa sobre mesa no prato, no pranto, no pires. Respire. Repare. Respeite. Pare. Continue, antes que a cidade destrua a gente de toda idade. Verdade nua e crua. Na rua, na minha, na sua. Deu na internet, falaram que a cidade vai destruir a gente. Doeu na internet. Interna a cidade. Me interna junto. Me separa por assunto. Vai braço, vai perna, cabeça, ideia, joelho em desconjunto pra outra, pra ostra, pra crosta terrestre. E outra parte pra Marte, pro sertão e pro agreste. Pra longe. Enterra a cidade. Interna. Loucura tem cura? Amor tem procura? A noite é clara, a manhã é escura. A terra é molhada, o mar é secura. Carinho não vem por caridade. A lua é amarela e o sol é branco. O que primeiro não pega só pega no tranco. E rola o barranco. E ecoa o berro. O erro. O ferro. A água esfarela e a farinha evapora. O que eu vivo aqui dentro ninguém sente lá fora.

Deu vontade de sair escrevendo, sem interrupção. Como se não tivesse mais opção. Deu vontade de deixar o sonho me levar. Deu vontade de ser vento e inventar. De ser quem eu queria ser, antes de me danar. Nadar no rio, no fundo, debaixo da cachoeira. E o mundo ficar mudo. A água em volta do ouvido. Tudo menos dolorido. Tudo menos cidade e mais natureza. Mais liberdade e menos represa. Faz de concha que pode. Faz a conta, vê se dá e se apronta. Faz a mala e vem comigo. Faz da alma o seu motivo. Pro que sangra, curativo. Pro amor se manter vivo. Mas só vem se tiver certeza. Mas só vem se for pra embarcar na mesma correnteza.

(por Eduardo Shor)

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